Brasil
Golpistas em aplicativos de paquera roubam sonhos e dinheiro

Publicado em 13/02/2022 21:51 Atualizado em 14/02/2022 16:55

Reprodução

SÃO PAULO — Em setembro de 2019, Márcia Tripode, de 34 anos, conheceu A.T., 45, pelo aplicativo de relacionamentos Tinder. Ele se dizia agente da Polícia Federal, licenciado para cuidar do pai doente. Após cinco meses de conversas, fotos e galanteios, ela aceitou encontrá-lo no início de 2020, pouco antes da pandemia. Dona de um pequeno e-commerce, divorciada e mãe de uma criança de 5 anos, Márcia fazia suas próprias entregas e recebia os pagamentos em dinheiro. Educado, gentil e solícito, A.T. passou a dizer que ela deveria se proteger e arrumou um motorista “de confiança” para fazer o trabalho. Recomendou ainda que ela não deixasse dinheiro em casa e se ofereceu para que tudo fosse guardado em um cofre dele.

Com os pagamentos sob seu controle, o namorado nunca repassava os valores totais. Se a venda era de R$ 10 mil, entregava R$ 4 mil e o resto guardava. Convenceu Márcia a fazer um empréstimo através da mãe dela para comprar um caminhão, que acabou no nome dele. Quando era cobrado, se exaltava. Ela só percebeu o golpe quando o prejuízo alcançava R$ 338 mil. Bastou exigir que os valores das vendas passassem a ser depositados em sua conta para o romance acabar. Para reaver o que perdeu, Márcia foi à Justiça.

Assim como no documentário “O golpista do Tinder”, sucesso na Netflix sobre o israelense expulso do aplicativo após fingir ser filho de um magnata de diamantes para roubar US$ 10 milhões de mulheres, A.T. valeu-se de uma “farsa romântica”. Usou uniformes similares aos da PF, exibiu armas e fez Márcia, então sozinha, se sentir protegida e confiante.

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— Posso até não receber tudo o que me levou, mas quero que ele nunca mais consiga repetir isso — diz ela.

No Brasil, o golpe nos aplicativos de paquera é conhecido como estelionato sentimental. A promotora Fabíola Sucasas, do Ministério Público de São Paulo e auxiliar da Presidência do Conselho Nacional do Ministério Público, observa que o crime tem um recorte de gênero, já que muitas mulheres ainda sonham com um “príncipe encantado”:

— Com a promessa de que a fará feliz, o príncipe se mostra um sapo. O problema é que há uma deturpação e acaba por se culpabilizar mais a vítima do que o golpista.


Postado por Redação

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