A marca de dez mil mortos por Covid-19, ultrapassada em São Paulo na última semana, chega no momento de maior incógnita da doença no estado, um estágio definido por médicos e pesquisadores como “areia movediça”. Por um lado, o anúncio de testes com uma nova vacina pelo Instituto Butantan e o início de uma estabilização de casos na capital paulista sugerem um respiro. A taxa de ocupação de leitos de UTI na Grande São Paulo caiu 86% em meados de maio para 69% nos últimos dias. Por outro, a aceleração do contágio no interior e o aumento do número de municípios com casos registrados, em meio a uma flexibilização da quarentena, ameaçam gerar uma onda de refluxo de casos e de recirculação ativa do vírus na capital. No número geral do estado, a taxa de ocupação de leitos de UTI saltou de 69% para 76%, na contramão do que ocorre na Região Metropolitana.
A maior cidade do país tem hoje mais de 80 mil registros da doença e 5.350 óbitos. Em todo o estado, são 10,3 mil mortes e quase 168 mil casos de Covid-19.
No Rio, a situação de imprevisibilidade é semelhante. Especialistas apontam para um grau de estabilização na doença, avaliando parâmetros como a diminuição na ocupação hospitalar, no número de novas internações, no registro de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave — doença que serve de indicador para a Covid-19 — e na taxa de transmissão (RT), próxima de 1. No entanto, ainda não é possível afirmar que a cidade passou o pico, e, com a flexibilização das medidas de isolamento social, o cenário fica ainda mais incerto.
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— Há uma incerteza sobre em que momento estamos. Ainda não tem como dizer se hoje é o pico, pode até ser que ele tenha passado. Só depois vamos olhar para trás e saber exatamente quando chegamos lá — afirma Daniel Villela, do programa de computação científica da Fiocruz: — Mas pode ser que tenhamos outros picos. Os países da Europa fizeram a flexibilização com a situação mais consolidada. Nossa situação também tinha que ser mais consolidada, com boa noção de declínio, boa testagem, antes de abrir.
Evolução da doença numa “curva camelo”
Se é difícil precisar em que momento estamos, mais difícil ainda é prever para onde vamos. Para o epidemiologista da Uerj Guilherme Werneck, a curva da evolução da doença no Brasil pode ser muito diferente daquela famosa montanha com pico que tanto foi divulgada:
— Há indicadores positivos. Mas outra coisa é dizer que por causa disso está na hora de relaxar, com o que eu não concordo. Precisaria de um tempo para manter essa tendência, uma semana, duas, porque se não fizermos com segurança, não é nem que teremos uma segunda onda, mas a reativação da primeira. Já não era esperado que saíssemos rápido do platô, e se vão abrir no momento que achatamos a curva, vai aumentar e ela vai parecer uma corcova de camelo.
Iniciada a flexibilização, os indicadores podem começar a mudar em cerca de 15 dias. Pode ser que a estabilização ou até eventual declínio se consolidem, mas não é nisso que aposta o epidemiologista.
— Se em 15 dias nada mudar, continuar estabilizado, vai ser ótimo, mas não acredito nisso. E aí? Será que as pessoas vão aderir de novo ao isolamento social? Elas já experimentaram aquilo, sabem que é ruim.
São Paulo teve que recuar da flexibilização
Para Raul Guimarães, professor de Geografia da Saúde da Universidade Estadual Paulista (Unifesp), São Paulo ainda não atingiu o teto de casos, e a projeção de um pico em julho se arrasta para setembro:
— Com as antecipações de reabertura, municípios que já estavam na fase amarela retrocederam para a vermelha em 15 dias. Não era hora de flexibilização. Agora essa projeção de julho se arrasta para o começo de agosto, olhando para setembro. Estamos numa areia movediça.
No plano de flexibilização de SP, a fase vermelha é o alerta máximo de contaminação. Na amarela, atividades não essenciais podem ser reativadas.
Propagação no interior é sinal de alerta
De acordo com Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a Covid-19 ainda se propaga em velocidade preocupante para cidades menores, inclusive para locais que há poucas semanas não tinham nenhum caso. Em São Paulo, 88% dos municípios têm registros da doença, um cenário bem diferente de dois meses atrás, quando o coronavírus estava presente em apenas 25% cidades.
Para o especialista, o cenário é fruto do relaxamento de medidas de isolamento e dos atuais modelos de flexibilização da quarentena nas grandes cidades.
— O grande receio hoje é justamente as regiões que até então tinham sido poupadas e agora estão em uma onda de aumento de casos. O que tem que fazer, às vezes, é uma barreira sanitária, evitando que o vírus circule. Com a H1N1 também foi a mesma coisa, a diferença era que o vírus se proliferava na temperatura mais baixa, e a Covid se espalha mesmo em locais quentes.
Postado por Redação
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